(1) Unacademic, 2017
Técnica mista s/tela
50 x 50 cm

(2)Purity, 2017
Técnica mista s/tela
50 x 50 cm


(3) Objecto #1

(4) Objecto #2















Mónica: (dois esquemas como resposta: Obecto #1; Obecto #2).
             

Joana:  Gostei muito da tua abordagem, porque me permitiu pensar de forma mais analítica e menos poética.

Quero dizer-te que senti imediatamente que estes manuscritos me deixaram "de fora", confrontaram-me com o correr de um pensamento que se desenvolve dentro de si mesmo e da sua própria linguagem - algo muito desafiante e intrigante neste contexto. Escolheste manter-te fiel ao discurso das tuas obras, e talvez a partir daqui este carácter fosse inevitável.
Também, creio que a minha resposta só se poderá manter em concordância com isto, e portanto dirijo-me directamente ao que me foi revelado do teu processo artístico.

Quando olho para os dois objectos/esquemas, assumo que o primeiro traça uma estreita relação entre a tua prática - até mesmo sobre obras tuas - e o objecto variável que é a confidência; o segundo, interpreta esta variável consoante um mote mais genérico para a criação. Esta diferença entre as duas abordagens pareceu-me muito interessante, precisamente porque não faz com que se anulem uma à outra mas com que se completem, quando procuram afirmar o potencial papel do tal objecto - o da confidência. Também, fez-me pensar sobre como pode esta relação reflectir o teu pensamento na execução da tua obra. Faço-me entender?

A respeito do primeiro rascunho, reflecti sobre o lado infrutífero de um objecto (como este que é o da matéria que introduzi, a relação entre a confidência e a prática artística). Não por teres sublinhado este lado, mas por mostrares a necessidade de considerar hipóteses dispares e contrárias, para o desenvolvimento de um objecto - e realmente, referes que na hipótese do objecto ser estéril, não há desenvolvimento. Achei interessante porque me sugeriu a necessidade de um carácter positivista ao "mecanismo" do teu processo, e que portanto, a confidência deverá ser interpretada como um acto positivo (fértil) no processo artístico.


Mónica:  A abordagem que eu fiz à tua proposta partiu do pressuposto de que a confidência seria uma "entidade" meio abstracta - a ideia de que esta só se torna concreta (objecto/ arte) tomando como veículo o confidente (artista ou qualquer pessoa) que a ponha em prática e a  torne visível e palpável, ou seja, concreta.

Neste rascunho achei piada enfatizar que a confidência (a ideia) pode ser uma coisa que interesse a umas pessoas e a outras não, e esta só se torna concreta – objecto - se for parar às mãos do confidente certo.

Realmente estou de acordo contigo quando dizes que no Objecto #1 a interpretação foi mais concreta e o no Objecto #2 foi mais geral e que os dois se complementam. Nestes trabalhos, e se eu pensar nestes termos, sendo a confidência o objecto variável e sendo o nosso objectivo (dos artistas) explorar todo o seu potencial, eu tentei condensar uma ideia escolhendo apenas palavras em vez de frases, por achar que estas têm força individualmente mas também no seu conjunto tornarem a ideia mais forte.


Joana:  Agradeço-te que tenhas apresentado um ponto de vista pessoal e espontâneo! Por meu lado, tenho debatido esta matéria de tantas formas diferentes, sob tantas interpretações, que não posso já dizer-te o que é para mim a definição deste objecto que é a confidência: se é o objecto que o artista agarra para transformar, ou se é um objecto que passa a existir por consequência da criação, ou se pode não existir de todo!



*



Joana:  Reflectindo sobre a tua prática e na ideia de que a obra de arte poderia ser o fruto de uma troca de confidências, dirias ser pela própria obra que se revela, ao espectador, o objecto confidencial (o “segredo”)? Ou é esta obra que detém a condição confidencial desse objecto?


Mónica:  Neste exercício, onde depreendo que existe uma entidade que detém a ideia original e eu sou um mero veículo que a serve, ou seja, torno possível a existência física dessa ideia, julgo poder afirmar que é pela obra que se revela o objecto confidencial.


Joana:  No teu trabalho ou na tua prática, qual é o espaço para a existência de comunhões entre um sentimento vulnerável e um sentimento destemido; um gesto confiante e um gesto inseguro?


Mónica:  Poderia dizer que considero o sentimento vulnerável o instinto e o sentimento destemido o racional, pelo que existe lugar para os dois no meu trabalho. Numa fase inicial predomina o instinto (gesto confiante), depois nas decisões que tomo para finalizar a obra é o racional (gesto seguro) que impera.


Joana:  Parece existir um constante movimento de transformação da palavra e do conceito na tua obra. Há alguma relação específica entre a primeira e a última palavra que constroem as tuas imagens e a sua ordem? Como por exemplo, entre UNACADEMIC e UNFRAMED?


Mónica:  Geralmente escolho as palavras de modo a fazer sentido não só entre elas mas também individualmente. Neste caso, depois de feita a selecção das palavras, escolhi uma sequência que julguei ter mais impacto visual, conceptual e até fonético. Todas começam com “UN” para enfatizar a negação da palavra e, em conjunto, terem mais impacto.





︎︎︎