Distância

Exposição Digital



Sala I and II, 40, 400



Marco Pestana






// Marco Pestana nasceu em 1993, no Funchal. Licenciou-se em Escultura, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, 2018. Actualmente frequenta o mestrado em Arte e Multimédia pela FBAUL. Trabalha desde 2019 com a Associação Luzlinar, onde coordena acções de reflorestação e atividades culturais no Feital, Trancoso.

Participou em Residências de Investigação e criação artística promovidas no âmbito do Projecto Pontes pela Associação Luzlinar, no Fundão, Castelo Branco e Feital, 2018-2020.

Das exposições colectivas nas quais participou destacam-se:”Traça” no espaço Útero, Lisboa. Portugal, 2019 -” Dois lugares, um” no Espaço Pontes, Fundão. Portugal, 2019 – “Singular Pace” na ZetGallery, Braga. Portugal, 2018 – “Marco + André” na Galeria da AE FBAUL, Lisboa. Portugal, 2018.




// Após o convite para propor obras para este projecto, e estando neste momento há cerca de 40 dias naquilo que chamamos de isolamento social, surge um sentimento que penso ser nostalgia, um sentimento de falta. A minha actividade neste último ano divide-se entre as artes e a ações de reflorestação, entre o meu atelier em Lisboa e o Feital em Trancoso, tanto a reflorestar como a investigar artisticamente.

Quando toda esta situação relacionada à pandemia escalou deparei-me com a obrigação de ficar no apartamento rodeado de paredes de betão com vistas verdes através da varanda, o exterior. Relacionada com a condição a que estamos sujeitos neste momento ansio o retorno para este segundo lugar, o Feital, ou qualquer outro lugar rural ou natural.

A primeira obra que propus é para mim algo simples, são desenhos a tinta da china de ramos de carvalho retirados de um carvalhal, onde mais tarde os desenhei, no entanto o que me atinge ao refolheá-los e ao escolhê-los é a distância entre o lugar onde estou agora e o lugar onde deveria estar. Neste momento, enquanto escrevo este texto não estaria lá, mas na semana passada sim. Como tem sido sempre estes últimos dois anos, entre Lisboa, uma viagem e o Feital.

A segunda imagem são várias fotografias feitas em filme, Kodak T-Max 400. São dispostas da forma que foram enviadas (na vertical), (esta forma surgiu já durante o isolamento, talvez associada à ação de scroll das redes sociais), foram todas tiradas neste mesmo espaço geográfico do qual me encontro deslocado, o Feital.

Ocultado por períodos indefiníveis estão as maiores surpresas, conhecem-se as estações mas não se conhece o dia em que a flor de um sabugueiro começa a brotar. O tempo desvela o lugar ao ser, constantemente, o que implica, se assim for a nossa intenção, desocultar tudo o que é ocultado na natureza. Um musgo no outono mostra-se mais verde e vivo do que no verão, consegue preencher uma floresta inteira. Aqui entro no tempo das coisas, na força da vida. Conhecer uma árvore implica conhecer-lhe as estações, quando se trata de uma árvore perene pode até tornar-se irreconhecível, um carvalho, de um outono ao outono seguinte transforma-se por completo.

- Marco Pestana