Carmo Pinheiro de Melo
Hemingway 1, 2020
Trabalho digital, serigrafia
100x150 cm
Hemingway 1, 2020
Trabalho digital, serigrafia
100x150 cm
Carmo Pinheiro de Melo
Hemingway 2, 2020
Trabalho digital, serigrafia
100x150 cm
Hemingway 2, 2020
Trabalho digital, serigrafia
100x150 cm
Hemingway 1 e Hemingway 2 de Carmo Pinheiro de Melo formam parte da série Away with Brutus (2020), projecto-manifesto contra o Novo Brutalismo que explora as noções da materialidade do vazio e do espaço negativo enquanto campo potencial de construção.
Tomando como base as ruínas do edifício de uma biblioteca inglesa de estilo brutalista, a artista trabalha sobre uma vista telescópica dos restos de betão destruído, revelando a interioridade do material – acto lúdico se pensarmos que o Brutalismo já se caracteriza pelo uso de betão exposto. Apesar de aparentemente sólido no exterior, o seu interior parece assemelhar-se a uma massa em mutação ou deterioração, visualidade que deixa entrever a rejeição deste estilo arquitectónico. De facto, ainda que primeiramente projectados para melhor servirem os contextos sociais dos locais em que se integravam, os edifícios públicos e os complexos habitacionais construídos para a classe trabalhadora sob este movimento, foram sendo gradualmente denegados. Grandes blocos lineares, de padrões repetitivos, nos quais os andares se sobrepõem em pilha, a sua massa traduz um sentimento de permanência que, no entanto, contrasta com o abandono e a demolição a que foram votados os edifícios.
Ainda que pareçam difíceis de destruir ou modificar, Carmo Pinheiro de Melo altera, a partir do digital, os vestígios desses espaços, transformando a sua materialidade, mas não a sua forma. Desconstruindo as noções de solidez e estaticidade associadas ao material, bem como a concepção instalada de que o betão é aparentemente pobre ou opressivo, questiona a própria essência do mesmo, ao oferecer-lhe uma visualidade alternativa, mais vibrante, desarmada e harmoniosa. Neste sentido, a sua obra dá corpo ao vazio, isto é, a um espaço que já não está presente e a um objecto que já não existe, valorizando-o plasticamente. É, então, por meio do negativo que a artista inverte as características do material, destabilizando o nosso entendimento sobre o mesmo.